terça-feira, 7 de abril de 2020

Decisão liminar de Ministro do STF determina validação do sindicato nos acordos individuais de redução salarial e de jornada e de suspensão contratual



Foi deferida liminar nos autos da ação direta de inconstitucionalidade nº 6363, ajuizada pelo partido político Rede Solidariedade, para determinar que os acordos individuais de redução de jornada de trabalho e de salário ou de suspensão temporária de contrato de trabalho, previstos na medida provisória nº 936/2020, somente serão considerados válidos se os sindicatos de trabalhadores forem notificados em até 10 dias e se manifestarem sobre sua validade na forma e nos prazos estabelecidos na legislação trabalhista.
A decisão liminar foi proferida pelo Ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), e não é definitiva, visto que deverá ser submetida a referendo do Plenário.
Contudo, inobstante ainda esteja pendente o julgamento definitivo da questão, a decisão liminar deverá ser observada e respeitada, o que significa dizer que o acordo individual de redução de jornada de trabalho e de salário ou de suspensão temporária de contrato de trabalho deve ser validado pelo sindicato da categoria trabalhadora.
Dentro desse contexto, recomenda-se que o empregador que pretenda celebrar tais acordos com seus empregados,  elabore o acordo por escrito e protocole no sindicato no prazo de 10 dias.
Se o sindicato não se manifestar sobre o acordo, na forma e nos prazos previstos na lei, significa que ocorreu a concordância do ente sindical com o acordo individual.
Na CLT temos como exemplo o art. 617 da CLT que prevê o prazo de 8 dias para o Sindicato assumir a negociação coletiva:

Art. 617 - Os empregados de uma ou mais empresas que decidirem celebrar Acordo Coletivo de Trabalho com as respectivas empresas darão ciência de sua resolução, por escrito, ao Sindicato representativo da categoria profissional, que terá o prazo de 8 (oito) dias para assumir a direção dos entendimentos entre os interessados, devendo igual procedimento ser observado pelas empresas interessadas com relação ao Sindicato da respectiva categoria econômica.
§ 1º Expirado o prazo de 8 (oito) dias sem que o Sindicato tenha se desincumbido do encargo recebido, poderão os interessados dar conhecimento do fato à Federação a que estiver vinculado o Sindicato e, em falta dessa, à correspondente Confederação, para que, no mesmo prazo, assuma a direção dos entendimentos. Esgotado esse prazo, poderão os interessados prosseguir diretamente na negociação coletiva até final.
§ 2º Para o fim de deliberar sobre o Acordo, a entidade sindical convocará assembleia geral dos diretamente interessados, sindicalizados ou não, nos termos do art. 612.

Transcorrido o prazo, é de bom alvitre que o empregador obtenha prova documental acerca da inércia do Sindicato para assumir a negociação coletiva.

Confira a decisão do STF no link a seguir: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI6363.pdf

Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda - medida provisória nº 936


1.            Introdução.
Este ensaio apresenta uma análise jurídica do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda constante na medida provisória nº 936, que possibilita a suspensão de contrato do trabalho e/ou redução de salário e jornada durante o estado de calamidade pública ocasionado pela pandemia por COVID-19 (novo Coronavírus). Verifica-se, ainda, o alcance e efeitos jurídicos decorrentes da implementação das medidas trabalhistas previstas na medida provisória nº 936, tais como pagamento de benefícios, estabilidade provisória no emprego dos trabalhadores atingidos, dentre outros aspectos jurídicos relevantes.
2.            Análise Jurídica do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda - medida provisória nº 936.
No dia 01/04/2020  foi publicada a medida provisória nº 936, que institui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, bem como dispõe sobre medidas trabalhistas complementares para enfrentamento do estado de calamidade pública (Decreto Legislativo nº 6 de 20/03/2020), e da situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do novo Coronavírus (COVID-19), decretada pelo Ministro de Estado da Saúde, por meio da Lei nº 13.979 de 03/02/2020.
A medida provisória nº 936 entrou em vigor imediatamente, no dia 01/04/2020, e tem eficácia de lei, valendo por 120 dias. Nesse contexto, a medida provisória nº 936 deve ser votada e aprovada pelos deputados e senadores, em 120 dias, sob pena de perder sua validade.
Primeiramente, é importante destacar que as alternativas previstas na medida provisória nº 936 não são obrigatórias, cabendo ao empregador decidir implementá-las conforme suas necessidades e conveniências, e observando o regramento específico para cada situação contemplada na norma, visto que algumas alternativas dependem da concordância do empregado ou requerem negociação coletiva.
As medidas do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda estão previstas n art. 3º da medida provisória nº 936 estão as seguintes:
a)              pagamento com recursos da União de benefício emergencial de preservação do emprego e da renda;
b)              redução proporcional de jornada de trabalho e de salários;
c)               suspensão temporária do contrato de trabalho.
As medidas acima referidas também. são aplicáveis aos contratos de trabalho de aprendizagem e de jornada parcial.
O tempo máximo de redução proporcional de jornada e de salário e de suspensão temporária do contrato de trabalho, ainda que sucessivos, não poderá ser superior a 90 dias, respeitado o prazo máximo de 60 dias para suspensão temporária do contrato de trabalho. Quer dizer, o empregador poderá se valer das duas medidas previstas (redução e suspensão), mas o tempo total da soma das medidas é 90 dias no máximo.
Outrossim, eventual adoção da redução proporcional de jornada de trabalho e de salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho deve resguardar o exercício e o funcionamento dos serviços públicos e das atividades essenciais.
2.1      Benefício emergencial de preservação do empregado e da renda
O benefício emergencial será pago pela União aos empregados de empresas que suspendam temporariamente contratos de trabalho ou adotem a redução proporcional de jornada de trabalho e de salário.
O benefício será de prestação mensal e devido a partir da data do início da redução da jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária do contrato de trabalho, observadas as seguintes disposições:
a)              o empregador deverá  informar ao Ministério da Economia a redução da jornada de trabalho e de salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho, no prazo de 10 dias a contar da data da celebração do acordo;
b)               a 1ª parcela do benefício será paga ao empregado no prazo de 30 dias, contado da data da celebração do acordo, desde que a celebração do acordo seja informada pelo empregador ao Ministério da Economia no prazo no prazo de 10 dias a contar da data da celebração do acordo.
c)               o benefício emergencial será pago exclusivamente enquanto durar a redução proporcional da jornada de trabalho e de salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho.
O descumprimento pelo empregador do prazo de 10 dias para informar o Ministério da Economia acerca da celebração de acordo de redução proporcional da jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária do contrato de trabalho acarretará as seguintes consequências:
a)              o empregador ficará responsável pelo pagamento da remuneração no valor anterior à redução da jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária do contrato de trabalho do empregado, inclusive dos respectivos encargos sociais, até a que informação seja prestada;
b)               a data de início do Benefício Emergencial será fixada na data em que a informação tenha sido efetivamente prestada e o benefício será devido pelo restante do período pactuado;
c)               a 1ª parcela será paga no prazo de 30 dias, contado da data em que a informação tenha sido efetivamente prestada.
O empregador deverá observar Ato do Ministério da Economia que disciplinará a forma de transmissão das informações e comunicações pelo empregador.
O benefício emergencial será pago ao empregado independentemente do cumprimento de qualquer período aquisitivo, de tempo de vínculo empregatício e do número de salários recebidos.
Todavia, o benefício emergencial não será devido ao empregado que esteja ocupando cargo ou emprego público, cargo em comissão de livre nomeação e exoneração ou titular de mandato eletivo.
O benefício emergencial tampouco será devido ao empregado que estiver enquadrado numas das situações abaixo:
·           gozo de benefício de prestação continuada do Regime Geral de Previdência Social ou dos Regimes Próprios de Previdência Social, exceto pensão por morte ou auxílio-acidente, conforme ressalvado no parágrafo único do art. 124 da lei nº 8.213/1991;
·           gozo do seguro-desemprego, em qualquer de suas modalidades;
·           percebendo bolsa de qualificação profissional de que trata o art. 2º-A da Lei nº 7.998/1990.

2.2      Redução proporcional da jornada de trabalho e de salário
Enquanto perdurar o estado de calamidade pública, o empregador poderá celebrar acordo de redução proporcional da jornada de trabalho e de salário de seus empregados, por até 90 dias. Para tanto, devem ser cumpridos os seguintes requisitos:
·          preservação do valor do salário hora;
·         acordo individual escrito entre empregador e empregado, que será encaminhado ao empregado com antecedência mínima de 2 dias corridos;
·         redução da jornada de trabalho e de salário, exclusivamente, nos seguintes percentuais: a) 25%; b) 50%; ou c) 70%.
O restabelecimento da jornada de trabalho original e do salário pago anteriormente deve ocorrer no prazo de 2 dias corridos, a contar da cessação do estado de calamidade pública ou:
·         da data estabelecida no acordo individual como termo de encerramento do período e redução pactuado; ou
·         da data de comunicação do empregador que informe ao empregado sobre a sua decisão de antecipar o fim do período de redução pactuado.
2.3      Da suspensão temporária do contrato de trabalho
Enquanto perdurar o estado de calamidade pública decorrente da pandemia por COVID-19 (NOVO Coronavírus), o empregador poderá optar pactuar um acordo para a suspensão temporária do contrato de trabalho de seus empregados, pelo prazo máximo de 60 dias, que poderá ser dividido em até 2 períodos de 30 dias.
A suspensão temporária do contrato de trabalho em análise deverá ser objeto de acordo individual escrito entre empregador e empregado, que será encaminhado ao empregado com antecedência mínima de 2 dias corridos.
Durante o período de suspensão temporária do contrato, o empregado fará jus a todos os benefícios concedidos pelo empregador aos seus empregados, como, por exemplo, o plano de saúde.
Enquanto o contrato de trabalho estiver suspenso o empregado poderá efetuar contribuição previdenciária na qualidade de segurado facultativo.
 O contrato de trabalho será restabelecido no prazo de 2 dias corridos, a contar a partir de um dos eventos abaixo:
·         da cessação do estado de calamidade pública;
·         da data estabelecida no acordo individual como termo de encerramento do período e suspensão pactuado;
·         da data de comunicação do empregador que informe ao empregado sobre a sua decisão de antecipar o fim do período de suspensão pactuado.
A suspensão temporária do contrato de trabalho ficará descaracterizada caso o empregado exercer atividades laborais, ainda que parcialmente, por meio de teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho à distância. Em tal hipótese, o empregador restará sujeito:
a) ao pagamento imediato da remuneração e dos encargos sociais referentes a todo o período;
b) às penalidades previstas na legislação em vigor; e
c) às sanções previstas em convenção ou em acordo coletivo.
A regra para a suspensão contratual é diferente para empresa que percebeu, no ano-calendário de 2019, receita bruta superior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). Empresa com esse perfil somente poderá suspender o contrato de trabalho de seus empregados mediante o pagamento de ajuda compensatória mensal no valor de 30% do valor do salário do empregado, durante o período da suspensão temporária de trabalho pactuado.
O empregador poderá oferecer curso ou o programa de qualificação profissional de que trata o art. 476-A da CLT  exclusivamente na modalidade não presencial, com duração não inferior a um mês e nem superior a 3 meses.
2.4      Da ajuda compensatória mensal paga pelo empregador
Nas hipóteses de redução de jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária de contrato de trabalho, além do benefício emergencial de preservação do emprego e da renda a ser pago pela União, o empregado poderá perceber uma ajuda compensatória mensal a ser paga pelo seu empregador, cujo valor será definido no acordo individual pactuado ou em negociação coletiva.
A ajuda compensatória mensal terá natureza indenizatória e não integrará a base de cálculo de INSS, de tributos sobre folha de salários, de FGTS e de imposto sobre a renda retido na fonte ou da declaração de ajuste anual do imposto sobre a renda da pessoa física do empregado.
Ademais, a ajuda compensatória mensal poderá ser excluída do lucro líquido para fins de determinação do imposto sobre a renda da pessoa jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das pessoas jurídicas tributadas pelo lucro real.
Na hipótese de redução proporcional de jornada e de salário, a ajuda compensatória mensal não integrará o salário devido pelo empregador.
2.5    Estabilidade provisória no emprego
O empregado que receber o benefício emergencial de preservação do emprego e da renda, em decorrência da redução da jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária do contrato de trabalho, com fundamento na medida provisória nº 936/2020, terá a garantia provisória de seu emprego (estabilidade temporária), quer dizer, fica vedado ao empregador rescindir o contrato empregatício sem justa causa por certo tempo.
Dentro desse contexto, o empregado terá garantida a estabilidade provisória no emprego nos seguintes momentos:
a)     durante o período acordado de redução da jornada de trabalho e de salário ou de suspensão temporária do contrato de trabalho;
b)     após o restabelecimento da jornada de trabalho e de salário ou do encerramento da suspensão temporária do contrato de trabalho, por período equivalente ao acordado para a redução ou a suspensão.
O desrespeito do período de garantia do emprego mediante dispensa sem justa causa sujeitará o empregador ao pagamento, além das parcelas rescisórias previstas na legislação em vigor, de indenização no valor de:
a) 50% do salário a que o empregado teria direito no período de garantia provisória no emprego, na hipótese de redução de jornada de trabalho e de salário igual ou superior a 25% e inferior a 50%;
b) 75% do salário a que o empregado teria direito no período de garantia provisória no emprego, na hipótese de redução de jornada de trabalho e de salário igual ou superior a 50% e inferior a 70%;
c) 100% do salário a que o empregado teria direito no período de garantia provisória no emprego, nas hipóteses de redução de jornada de trabalho e de salário em percentual superior a 70% ou de suspensão temporária do contrato de trabalho.
As hipóteses de rescisão do contrato de trabalho por pedido do empregado ou por justa causa obreira não acarretam a penalização do empregador acima mencionada, visto não se configurarem como ofensas ao direito de estabilidade provisória no emprego.
2.6      Da possibilidade de negociação coletiva
As medidas de redução de jornada de trabalho e de salário ou de suspensão temporária de contrato de trabalho poderão ser celebradas por meio de negociação coletiva. Inclusive, por meio de convenção ou acordo coletivo de trabalho poderão ser previstos percentuais de redução de jornada de trabalho e de salário diferentes das opções previstas na medida provisória nº 936, o que ensejará mudanças na percepção pelo empregado do benefício emergencial de preservação do emprego e da renda:
·                sem percepção do benefício emergencial para a redução de jornada e de salário inferior a 25%;
·                de 25% sobre a base de cálculo[1] prevista para a redução de jornada e de salário igual ou superior a 25% e inferior a 50%;
·                de 50% sobre a base de cálculo prevista a redução de jornada e de salário igual ou superior a 50% e inferior a 70%;
·                 de 70% sobre a base de cálculo prevista para a redução de jornada e de salário superior a 70%.
Importante esclarecer que eventuais convenções ou os acordos coletivos de trabalho celebrados antes do advento da medida provisória nº 936 poderão ser renegociados para adequação de seus termos, no prazo de 10 dias corridos a contar de 01/04/2020.
Os empregadores deverão comunicar o sindicato dos empregados a celebração de  acordos individuais de redução de jornada de trabalho e de salário ou de s temporária do contrato de trabalho, pactuados nos termos da medida provisória nº 936. O prazo para comunicar o sindicato é de 10 dias corridos, contado da data de sua celebração.
As medidas do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda serão implementadas por meio de acordo individual ou de negociação coletiva aos empregados:
·                         com salário igual ou inferior a R$ 3.135,00 (três mil cento e trinta e cinco reais);
·                         portadores de diploma de nível superior e que percebam salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (R$ 12.202,12).
Para os demais empregados, que não se enquadram nos parâmetros acima (que auferem a partir de R$ 3.135,01 até R$ 12.202,11), as medidas do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda somente poderão ser implementadas por intermédio do sindicato, mediante convenção ou acordo coletivo, com uma ressalva: poderá ser celerado acordo individual de redução de jornada de trabalho e de salário de 25%.
No que se refere aos acordos e convenções coletivas, poderão ser utilizados meios eletrônicos para atendimento dos requisitos formais previstos na CLT, inclusive para convocação, deliberação, decisão, formalização e publicidade, e os prazos ficam reduzidos pela metade.
3.         Considerações finais
As possibilidades previstas na medida provisória nº 936 não são obrigatórias, tratando-se de alternativas disponíveis para o empregador que enfrentar dificuldades poder manter suas atividades empresariais ou contornar uma eventual situação de inatividade com menos prejuízos nesta atual situação de calamidade pública decorrente da pandemia por COVID-19.
O empregador deve ser cauteloso e analisar de forma coerente e razoável acerca da viabilidade de adoção das medidas disponibilizadas pela novel medida provisória nº 936, bem como pela medida provisória nº 927 publicada na semana passada, notadamente aquelas que impactam em redução salarial e que podem ensejar futura discussão judicial.
Isso porque inobstante a medida provisória nº 927 disponha no parágrafo único do seu art. 1º sobre a ocorrência de força maior para fins trabalhistas, conforme art. 501 da CLT, devemos ter em mente o inteiro teor do referido dispositivo consolidado, senão vejamos:
Art. 501 - Entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente.
§ 1º - A imprevidência do empregador exclui a razão de força maior.
§ 2º - À ocorrência do motivo de força maior que não afetar substâncialmente, nem for suscetível de afetar, em tais condições, a situação econômica e financeira da empresa não se aplicam as restrições desta Lei referentes ao disposto neste Capítulo.
Em que pese o estado de calamidade pública que assola o país, é cediço que diversos segmentos empresariais não foram afetados nos aspectos econômicos e financeiros de forma negativa, de modo que será inviável alegar “força maior” em diversas hipóteses. Pelo contrário, certas empresas, em especial as de serviços essenciais, tais como supermercados e farmácias, estão vendendo mais que em tempos normais.
 Ainda, outros segmentos não foram afetados de forma substancial em sua situação econômica e financeira, visto que lograram adaptar sua operação, por meio de adoção do trabalho à distância ou pela alteração provisória da forma de prestar seus serviços, tal como ocorre com lojas físicas que adotaram o e-commerce e prosseguem com as vendas, e estabelecimentos de ensino que implementaram o ensino à distância e que continuam recebendo o pagamento das mensalidades escolares.
Isso posto, recomenda-se cautela na utilização das alternativas jurídico trabalhistas disponibilizadas pelas medidas provisórias nº 927 e nº 936, mediante avaliação pormenorizada de cada caso específico, visto que a situação de força maior para fins trabalhistas não pode ser invocada de forma irrestrita.



[1] A base de cálculo é o valor mensal do seguro-desemprego a que o empregado teria direito.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Aproveitamento e antecipação de feriados durante o estado de calamidade pública decorrente da pandemia por COVID-19 (novo Coronavírus)



Nesta época de pandemia por COVID-19 (novo Coronavírus), muitos empregadores estão adotando o trabalho à distância, como alternativa de manter parte das suas atividades empresariais em andamento, o que soluciona o problema da prestação de trabalho de parcela dos seus empregados, em especial aqueles de cunho intelectual ou desenvolvidos por sistemas informatizados.
Ainda, o trabalho em domicílio, outra espécie de trabalho à distância, é uma opção para certos segmentos de prestação de serviços, como por exemplo, costura e artesanato.
Contudo, certos trabalhadores exercem atividades laborais que não podem ser prestadas fora da sede física do empregador e que se referem a grande parcela dos empregados, tais como as funções de copeira, faxineira, recepcionista, pedreiro... E com o advento de decretos estaduais e municipais que vedam ou restringem o funcionamento de determinadas atividades empresariais, o que enseja o fechamento temporário de certos estabelecimentos, muitos empregadores tentam respeitar as normas que impõem o isolamento social e fazer a gestão mais adequada e razoável possível de seu quadro de funcionários.
Dentro dessa perspectiva, o empregador deve ter em mente a opção de antecipar o feriados enquanto perdurar o estado de calamidade pública, conforme previsto na medida provisória nº 927/2020, o que permitirá a futura prestação de trabalho dos empregados nas datas que seriam folgadas nas datas dos próximos feriados nacionais, estaduais e federais, e até mesmo nos feriados  de cunho religioso, caso o trabalhador aceite.
Importante destacar que não existe previsão na medida provisória nº 927 de limitação temporal dos futuros feriados a serem antecipados. Assim sendo, nada impede que feriados do ano de 2021 sejam antecipados.
Inclusive, a medida provisória nº 927 prevê que os feriados também podem ser utilizados para compensação do saldo existente em banco de horas (§1º do art. 13), e que o banco de horas pode ser compensado dentro do prazo de 18 meses contado do encerramento do estado de calamidade pública decorrente da pandemia (art. 14).
Assim, enquanto perdurar o estado de calamidade pública, os empregadores poderão antecipar o gozo de feriados não religiosos federais, estaduais, distritais e municipais, mesmo sem a concordância do empregado.
Caso o empregador opte pela antecipação de feriados não religiosos, o empregador deverá notificar, por escrito ou por meio eletrônico, o conjunto de empregados beneficiados com antecedência mínima de 48 horas, mediante indicação expressa dos feriados aproveitados. Para os feriados religiosos, deve ser celebrado acordo individual escrito, ou seja, sem necessidade de assistência sindical.
Para estabelecimentos sediados em Novo Hamburgo-RS, por exemplo, teríamos a seguinte possibilidade de feriados:
Feriados para a cidade de NOVO HAMBURGO-RS
DATA
FERIADO
TIPO
HORAS
10/04/2020 (sexta-feira)
Sexta-feira Santa
Religioso
08
21/04/2020 (terça-feira)
Tiradentes
Nacional
08
01/05/2020 (sexta-feira)
Dia do Trabalhador
Nacional
08
21/05/2020 (quinta-feira)
Ascensão do Senhor
Religioso
08
11/06/2020 (quinta-feira)
Corpus Christi
Religioso
08
07/09/2020 (segunda-feira)
Independência
Nacional
08
12/10/2020 (segunda-feira)
Nossa Senhora Ap.
Religioso
08
02/11/2020 (segunda-feira)
Finados
Religioso
08
16/02/2021 (segunda-feira)
Carnaval
Facultativo
08
17/02/2021 (terça-feira)
Carnaval
Facultativo
08
02/04/2021 (sexta-feira)
Sexta-feira Santa
Religioso
08
05/04/2021 (segunda-feira)
Emancipação
Municipal
08
21/04/2021 (quarta-feira)
Tiradentes
Nacional
08
13/05/2021 (quinta-feira)
Ascensão do Senhor
Religioso
08
03/06/2021 (quinta-feira)
Corpus Christi
Religioso
08
07/09/2021 (terça-feira)
Independência
Nacional
08
20/09/2021 (segunda-feira)
Revolução Farroupilha
Estadual
08
12/10/2021 (terça-feira)
Nossa Senhora Ap.
Religioso
08
02/11/2021 (terça-feira)
Finados
Religioso
08
15/11/2021 (segunda-feira)
Finados
Nacional
08
TOTAL DE 20 FERIADOS = 160 HORAS para jornada de 8 horas por dia

No caso dos feriados nacionais, estaduais e municipais não é necessária a concordância do empregado para antecipação no período de calamidade pública, bastando a vontade do empregador e que este cumpra as formalidades previstas no art. 13 da medida provisória nº 927:
·         comunicar  o aproveitamento e antecipação dos feriados por escrito ou por forma eletrônica  (e-mail, whatsapp, etc...);
·           48 horas de antecedência;
·         mediante indicação expressa dos feriados aproveitados.