Quem
é da região sul do Rio Grande do Sul, em especial das cidades de Pelotas, Turuçu
e São Lourenço do Sul, conhece muito bem o curtume Arthur Lange (Arthur Lange
Indústria e Comércio de Couros e Peles S.A), e, infelizmente, também deve saber
que as atividades do curtume foram encerradas em de janeiro de 2008 por acúmulo
de dívidas, o que resultou em crise financeira da cidade e cerca de 500 desempregados, que foram demitidos sem receber o pagamento de seus direitos rescisórios.
A
cidade de Turuçu, onde estava sediada a empresa (foto acima), entrou em crise econômica e
financeira, tendo em vista que a receita do município girava em torno do
curtume. Inúmeras famílias abandonaram a cidade e venderam a preço de banana
suas casas, que, obviamente, se desvalorizaram.
Conforme
noticiado pelo jornal pelotense Diário Popular de 24-07-2011, em reportagem de
Joice Bacelo, mesmo após três anos e meio do encerramento de suas atividades, o
curtume Arthur Lange ainda causa efeitos no município de Turuçu, em decorrência
das dívidas trabalhistas:
Quase metade dos
funcionários da época ainda não receberam pelos últimos meses de trabalho nem
os encargos decorrentes das demissões. Para a maioria deles, faltou também
parte do depósito referente ao Fundo de Garantia, que deveria ter sido pago
durante o período de atividade. Cerca de 200 funcionários - de um total de 500
– não receberam pelo serviço prestado. Todos que se sentiram lesados recorreram
à Justiça.
Os fatos acima mostram uma
triste realidade, em especial quando nos damos conta da história e trajetória do Curtume
Arhur Lange, e de seu papel na história e evolução da localidade.
O
município de Turuçu até hoje é conhecido como Vila Arthur Lange, nome da
localidade antes da emancipação política.
Nos idos dos anos 20/30 do século passado, um homem chamado
Arthur Lange estabeleceu-se com sua família na localidade de Arroio Grande, e
começou a trabalhar com uma pequena ferraria. Com o passar do tempo Lange abriu
uma pequena fábrica de tamancos coloniais e chinelos, empreendimento que
necessitou empregar pessoas.
Enfim, em 1949, o negócio evoluiu para um curtume denominado
Arthur Lange e Filhos, e ao seu redor
formou-se um vilarejo, a Vila Arthur Lange. Ou seja, o povoamento da região
ocorreu por causa do curtume. A partir de 1959, o curtume passou a exportar seus produtos.
Em 1960 foi construída a BR 116, que contribuiu para o
desenvolvimento industrial e prosperidade da região, o que culminou na formação
da Vila Arthur Lange, às margens da BR 116.
Em 1985, o Grupo Extremo Sul adquiriu o controle acionário
da empresa Arthur Lange S. A.
A Vila Arthur Lange, ou Vila Lange, foi um dos distritos da cidade
de Pelotas-RS e através de um plebiscito realizado em 1995 emancipou-se e
tornou-se o município de Turuçu - Lei nº 10.649, de 28 de dezembro de 1995.
LEILÃO
Conforme pode ser verificado na cópia da notícia publicada
no site do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (www.trt4.jus.br), abaixo transcrita, bens
do curtume serão leiloados para quitar dívidas trabalhistas de 320 reclamatórias
em fase de execução.
Confira abaixo:
13/06/2012 13:13 | Leilão de bens do
Curtume Arthur Lange deve arrecadar mais de R$ 1,5 milhão em Pelotas
A juíza Ana Ilca Saalfeld, titular da
4ª Vara do Trabalho de Pelotas, realizará audiência pública na próxima
sexta-feira (15/06), às 9h30, no auditório do Foro Trabalhista de Pelotas (Rua
29 de Junho, 160, bairro Cruzeiro do Sul), para esclarecer como serão feitas as
vendas dos bens do Curtume Arthur Lange, que serão utilizados para quitação de
320 reclamatórias trabalhistas em fase de execução. O evento integra a 2ª Semana Nacional
da Execução Trabalhista, que ocorre entre os dias 11 e 15 de junho
em todo o país. O leilão no qual serão efetivadas as vendas deverá ser marcado
para data posterior à audiência.
O Curtume Arthur Lange encerrou suas
atividades e deixou de pagar inúmeras dívidas trabalhistas. Diante das ações
propostas contra a empresa, a Justiça do Trabalho penhorou, entre outros bens, três
imóveis, nos quais foram construídas mais de 80 casas, além de um supermercado
e um edifício de três pisos, utilizado pelos empregados do curtume como
alojamento. As casas também são utilizadas como moradia por ex-empregados da
empresa, que oferecia habitação aos trabalhadores vindos de outras regiões, nas
décadas de 60, 70 e 80.
Depois de desmembrados, estes bens
totalizarão aproximadamente 120 imóveis, entre casas e terrenos, que serão
levados a leilão. Conforme a juiza Ana Ilca, a expectativa de arrecadação com a
venda gira em torno de R$ 1,5 milhão.
Para a audiência da próxima
sexta-feira, são esperadas mais de 200 pessoas, entre partes nos processos,
advogados, servidores da Caixa Econômica Federal, do cartório de registro de
imóveis, arquitetos que estão fazendo o desmembramento dos imóveis, empregados
e ex-empregados do Curtume que moram nos alojamentos e nas casas, entre outros
interessados.
Segundo a juíza Ana Ilca, a presença
da Caixa Econômica Federal na audiência deve-se ao fato de que os próprios
ex-empregados do Curtume poderão adquirir os imóveis no leilão, com
possibilidade de parcelamento ou pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Eles
também poderão utilizar seus créditos trabalhistas na aquisição. "Quero
que os ex-empregados do Curtume, sejam moradores ou ex-moradores dos
alojamentos e das casas, adquiram esses imóveis no leilão a ser marcado para os
próximos dias. Assim, estaremos fazendo, de fato, justiça social", afirma
a magistrada.
Saiba mais
A aglomeração de casas e alojamentos
providenciados pelo Curtume Arthur Lange à beira da BR 116, oferecidos como
moradia aos empregados que vinham de outras cidades, ficou conhecida como Vila
Arthur Lange, ou simplesmente Vila Lange. Na época, a localidade era um
distrito de Pelotas. Com o aumento da população, devido a chegada de muitos
trabalhadores, a Vila Lange deu origem ao município de Turuçu, fundado em 1997.
Hoje, a cidade conta com mais de 3.500 habitantes.
Fonte: Juliano Machado - Secom/TRT4